Desde que o fundador da XP Investimentos, Guilherme Benchimol, afirmou há pouco mais de dois anos que “empresa que não for ESG vai acabar”, o Brasil não passa uma semana sem uma nova reportagem, texto de opinião ou webinar sobre o tema. Prova de que não se trata de uma moda passageira: o conceito resumido na sigla inglesa ESG, de environmental, social and governance (ambiental, social e governança), surgiu em um evento do Pacto Global da ONU em 2004, e hoje é tema obrigatório para investidores e empresários preocupados com a sobrevivência dos negócios a médio e longo prazo.

“A sociedade está te impondo isso: eu quero que você continue sendo essa empresa fora de série, com produtos espetaculares, mas eu também quero o seu compromisso com a sociedade”, afirmou Benchimol. O espaço que empresas, ONGs e negócios sociais ganharam na mídia pelo combate às consequências socioeconômicas da Covid-19 para as populações vulneráveis, só reforçou essa tendência.

Mas o conceito de ESG vai além da tradicional abordagem dos departamentos de responsabilidade social corporativa. Antes de mais nada, por colocar a causa ambiental e o combate às mudanças climáticas em primeiro plano. A realidade do aquecimento global vem superando os cenários mais pessimistas. Consequências catastróficas já são tidas como inevitáveis pelas maiores empresas e consultorias internacionais -apesar do negacionismo de alguns governos e da ignorância da maioria dos cidadãos sobre a gravidade do problema. E depois, por trazer junto a camada de governança, que abarca desde transparência e combate à corrupção, até novas formas de liderança servidora e organização não hierárquica dentro das empresas.

Por tudo isso, o atual boom ESG é um fenômeno global. O pontapé inicial dessa onda foi dado em janeiro de 2020 por Laurence Fink, CEO da BlackRock, a maior gestora de fundos de investimentos do planeta. Em uma carta de direcionamento estratégico aos seus investidores, Fink afirmou que “sustentabilidade é o novo padrão da BlackRock” e reforçou a importância de investir cada vez mais em fundos com critérios ESG.  “A consciência está mudando muito rapidamente, e acredito que estamos à beira de uma mudança estrutural nas finanças. As evidências sobre o risco climático estão forçando os investidores a reavaliarem os pressupostos básicos sobre as finanças modernas”, afirmou Fink. Um ano depois, em janeiro de 2021, o executivo voltou ao assunto decretando “sustentabilidade como o novo padrão de investimento da BlackRock“.

É importante destacar que ESG não é uma certificação ou um selo, como é o caso das Empresas B. Ela é uma abordagem, uma mentalidade ou forma de olhar os negócios. Essa classificação nasceu no mundo dos investimentos e foi se irradiando, primeiro para as empresas, e agora para a sociedade como um todo. Uma das formas mais simples de entender como os gestores de investimento comparam o nível de compromisso ESG de cada empresa está no infográfico que abre este texto, criado pela gestora de créditos de carbono CarbonClick.

Do ponto de vista financeiro, é fundamental salientar que existe uma grande diferença entre os investimentos de impacto e os investimentos ESG. Enquanto os investimentos de impacto privilegiam a oportunidade de solucionar algum problema social, os investimentos ESG se preocupam em reduzir riscos ambientais, sociais e de governança para os investidores. Investimentos ESG não têm necessariamente intenção de gerar impacto positivo face a um problema socioambiental. Uma empresa de parques eólicos com boas práticas de governança é um bom exemplo de investimento ESG. Depois do acidente de Mariana, a Vale afirmou que aquele era um caso isolado e investiu bastante na reconstrução de sua imagem. A tragédia de Brumadinho veio para provar que a empresa operava sem a menor transparência, o que a transforma na antítese de um investimento ESG.

Mas à medida em que a sociedade em geral se apropria dessa sigla, o conceito de redução de risco tende a ser suplantado pelo de impacto positivo. Empresas ambientalmente corretas, socialmente justas, transparentes e com sólida governança podem gerar um impacto altamente positivo para todos nós -ou, dependendo de seu tipo de atividade, pelo menos evitar impactos negativos. Tradicionalmente, investidores se preocupavam apenas com a mitigação de riscos financeiros. Mas a sociedade não se contenta mais com isso, e a abordagem dos maiores investidores do planeta finalmente mudou. 


O documento chave que lançou o conceito de ESG em 2004 tinha o seguinte título:
Quem se Importa Ganha: Conectando Mercados Financeiros a um Mundo em Transformação. “Quem Se Importa” é também título do documentário da cineasta brasileira Mara Mourão que revela, de maneira tocante, como o título de empreendedor social conferido pela ONG Ashoka, há mais de 40 anos, vem dando a milhares de ativistas ao redor do planeta um senso de identidade e pertencimento fundamental para sustentar sua luta em prol de um mundo mais justo. E quanto a você e sua empresa, também se importam?