A pandemia do Coronavírus acentuou a frustração dos brasileiros com o Poder Público e aumentou sua confiança nas instituições privadas, vistas como as mais capazes de apresentar respostas aos graves desafios sociais que o país enfrenta. Essa é a principal conclusão da pesquisa Barômetro da Confiança 2021, da agência global de comunicação Edelman. No ano em que o conceito de ESG (ou responsabilidade socioambiental e governança corporativas) ganhou popularidade, impressionantes 90% dos brasileiros afirmaram que os CEOs das empresas devem liderar o país na solução de questões sociais.
A pesquisa online entrevistou mais de 33 mil pessoas em 28 países, sendo 1.150 no Brasil. O governo recebeu a pior nota entre todas as instituições por aqui: apenas 39% dos entrevistados dizem confiar no Poder Executivo. Já as empresas são confiáveis para 61% dos brasileiros. “Quando os governos não são eficientes, não conseguem atender às demandas da sociedade, a iniciativa privada, as empresas, ocupam esse lugar, o que está ocorrendo ainda mais durante a crise da Covid-19”, diz Ana Julião, gerente-geral da Edelman Brasil.
As organizações da sociedade civil também conseguiram índices de confiança superiores aos de governos e meios de comunicação. Enquanto 56% dos entrevistados afirmaram confiar nas ONGs, 48% dizem acreditar na mídia, que na pesquisa engloba plataformas de busca, redes sociais, sites e redes de empresas e instituições, além da mídia tradicional. Os dados reforçam a teoria da mudança da ORÉ Inovação em Impacto Social, que pretende contribuir para a solução dos graves desafios socioambientais do Brasil promovendo a colaboração entre empresas e organizações da sociedade civil.
Ainda que a pandemia tenha impactado nos resultados da pesquisa, que é realizada globalmente há 21 anos, ser contaminado pela Covid-19 não é a maior preocupação dos brasileiros. Enquanto 72% manifestaram medo da doença, uma porcentagem ainda maior está preocupada em perder o emprego (88%) ou com a perda de liberdade civis (73%) devido às investidas autoritárias do atual governo.
O grande impulsionador da desconfiança na sociedade, segundo a pesquisa, não é a Covid-19 mas outra epidemia: a das notícias falsas, ou fake news. Mas ao mesmo tempo em que se queixam da falta de confiabilidade das informações que recebem, os entrevistados revelam que menos de um terço aderem àquilo que a pesquisa define como “praticar informação limpa”. Para ser qualificado no grupo que adota essa prática, os entrevistados deveriam atender a pelo menos três dos quatro seguintes critérios: (a) consumir notícias de diferentes fontes, (b) evitar as bolhas, (c) checar informações e (d) não compartilhar sem antes verificar.
A recomendação final do estudo é que as empresas devem expandir suas funções na sociedade, não apenas para garantir a sustentabilidade de seus modelos de negócio, como também para realizar todo seu potencial de impacto socioambiental positivo. Entre as tarefas mais importantes para a iniciativa privada estão diminuir as desigualdades, combater as fake news e liderar a mitigação das mudanças climáticas.